Fundos estrangeiros de venture capital querem investir no Brasil mesmo com alta de juros [Forbes]

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By Isabella Velleda

Photo credit: Getty Images/Chuanchai Pundej

Visão a longo prazo permite que fundos aproveitem o mercado em crescimento do país.

Apesar de possuir a quarta maior taxa básica de juros do mundo, 11,75% ao ano, o Brasil continua atraindo investimentos de fundos estrangeiros de venture capital. Segundo firmas consultadas pela Forbes, a demanda por soluções inovadoras e o grande tamanho de mercado são os principais fatores que explicam a atratividade do país.

Dados da plataforma Distrito mostram que o volume total de investimentos recebidos por startups brasileiras em 2021 foi de R$ 44,1 bilhões, valor 165% maior do que o registrado em 2020, e 208% maior na comparação com 2019. Já no primeiro trimestre de 2022, foram R$ 9,5 bilhões em investimentos, alta de 4% na base anual.

As expectativas de que os investimentos continuarão crescendo, porém, contrariam uma das premissas básicas do mercado financeiro: de que o aumento das taxas de juros causa a depreciação de ativos de risco.

Amure Pinho, ex-presidente da Abstartups (Associação Brasileira de Startups) e fundador da Investidores.Vc, afirma que mudanças de cenário macroeconômico costumam prejudicar os investimentos de capital de risco, pois esse é um modelo pautado em incertezas. Ativos mais seguros, com retornos certos, levam a preferência.

“No entanto, não podemos esquecer que nem todos os ativos são iguais”, diz André Iaconelli, head da Flash Ventures no Brasil. “Há uma diferença fundamental entre aplicar esse conceito em ações negociadas em Bolsa e em ações de startups, que ainda vão demorar para ter fluxo de caixa e chegar aos mercados públicos.”

O que dizem os fundos
O Flash Ventures é um dos fundos globais que têm planos de aportar recursos no Brasil. Com sede em Berlim, na Alemanha, o fundo pretende investir em até 15 empresas brasileiras nos próximos dois anos e projeta investimentos iniciais a partir de US$ 500 mil por negócio. O que motiva a firma a apostar no Brasil é justamente uma visão de longo prazo.

O Flash Ventures foca empresas em estágio inicial de qualquer setor. Iaconelli, no entanto, admite que serviços financeiros, SaaS (software as a service) e web 3.0 são alguns dos universos mais “bem vistos” por oferecerem uma relação de risco e retorno melhor do que indústrias de capital intensivo como manufatura ou pesquisa avançada.

Atualmente, o fundo conta com cerca de 30 empresas em seu portfólio. Entre elas, cinco são brasileiras: Barte e Blipay, que já estão em operação, Compensa e Lunix, que lançarão seus produtos em breve, e uma quinta que ainda não foi revelada.

“Ainda há muita ineficiência e riqueza a ser construída ao solucionar os problemas do Brasil”, explica Iaconelli. “A combinação de tamanho de mercado, ambiente regulatório mais favorável e avanço na formação de profissionais de tecnologia nos permite enxergar uma onda cada vez maior de disrupção e criação no país nos próximos anos.”

Uma visão parecida é compartilhada pelo fundo norte-americano Flourish Ventures, liderado pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar. No passado, o fundo investiu em startups brasileiras como Neon, Dinie, Mercê do Bairro e Kamino, e pretende expandir ainda mais a sua presença no país.

Segundo Diana Narvaez, sócia e responsável pelos investimentos na América Latina, o fundo busca startups que ajudem a promover a inclusão financeira de indivíduos e pequenos negócios, afirmando que as fintechs que existem hoje ainda aproveitam pouco da “enorme oportunidade de mercado” presente no Brasil.

Ela aponta que as fintechs brasileiras detêm apenas 1% dos depósitos totais e 2% do mercado de crédito ao consumidor no país. Já os cinco principais bancos tradicionais detêm 90% do mercado bancário de varejo brasileiro e administram 80% dos ativos.

Entre os fatores que contribuem para o potencial da região, ela cita a demanda crescente por serviços digitais, a pouca penetração em segmentos socioeconômicos mais baixos e a escalabilidade de novos produtos financeiros.

Nesse contexto, a alta da taxa de juros é apenas um detalhe, diz.

“A Flourish, como um fundo perene com uma reserva permanente de capital, não está sujeita às mesmas dinâmicas e pressões de mercado”, explica Narvaez. “A mudança nos juros afeta principalmente os fundos que captam recursos de investidores institucionais, que precisam disputar com outras classes de ativos que oferecem retornos mais altos.”

Segundo ela, as taxas de juros mais altas podem até mesmo aumentar a demanda por financiamento de venture capital, ao tornar o financiamento por dívida uma fonte de capital menos atraente para os empreendedores.

Impacto dos altos juros
O principal impacto da alta das taxas de juros acaba sendo o indireto. Segundo Iaconelli, esse impacto tem a ver com as empresas que planejavam abrir capital mas desistiram por conta da falta de apetite do mercado público, que é inversamente proporcional à taxa de juros.

Quando essas empresas não vêm a mercado, ou têm seus valores depreciados, os fundos que as usam como referência para precificar investimentos precisam reduzir os preços, que por sua vez reduz o apetite por rodadas de financiamento.

“Isto acaba criando um efeito em cadeia que impacta mais as empresas mais maduras e vai se diluindo até as mais jovens”, explica.

Ainda assim, as vantagens são maiores. “O Brasil está barato para quem investe, porque ainda existe muito espaço para crescimento e esses fundos conseguem ter muita relevância quando vêm para cá”, diz Pinho.

Ele também acrescenta que as altas da taxa de juros e da inflação são problemas de boa parte das nações, e não apenas do Brasil, principalmente por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. Apesar de a insegurança e instabilidade aumentarem a aversão ao risco dos investidores, o Brasil não sai especialmente prejudicado.

“Pelo contrário”, afirma. “Como estamos vendo um boom das commodities por conta dessa crise na Ucrânia, que afeta principalmente os segmentos de energia e suprimentos, o Brasil tem até algumas vantagens”, diz ele.

 

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